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Mostrando postagens de 2012

Novo tempo-eixo?

O filósofo Karl Jaspers identificou na Antiguidade o que ele chamou de "tempo-eixo", um período de tempo entre 800 e 200 a.C., que, da Grécia até o Extremo Oriente, foi capaz de forjar o destino da história subsequente. O que caracterizou esse fecundo período, na verdade, foi a tomada de consciência de que o sentido do mundo não se encerra no próprio mundo. Rompendo com visões rigidamente cosmocên tricas, grandes individualidades na Grécia (os filósofos), em Israel (os profetas), na China e na Índia apontaram para uma Realidade metacósmica e nela viram o fundamento do mundo e do homem. Notadamente, o globo simbólico de nossa civilização ocidental foi constituído pelo encontro de duas experiências nascidas no tempo-eixo, a saber, a experiência da Revelação em Israel e a experiência da Ideia na Grécia. Em ambas as experiências, o homem e o mundo são remetidos a um fundamento transcendente, que não está simplesmente ao dispor das arbitrariedades e decisões humanas. No caso d

Resumo de uma parte de um livro sobre moral

BRUGUÈS, Jean-Louis, Introduzione. Il ritorno della morale. In ____ Corso di teologia morale fondamentale . 1: Che cosa è la morale e a che serve, Edizioni Studio Domenicano, Bologna 2004, p. 9-42. Introdução O autor começa referindo-se à grande crise da moral vivida sobretudo a partir da onda libertária de 1968. Em um clima refratário à lei e amante da pura liberdade, a moral era vista como algo repressivo e limitante. Reivindicavam-se os direitos do homem, esquecendo-se, porém, de que sobre ele recaem também deveres. Atualmente, entretanto – o autor escreve nos anos 90 -, a moral retorna! A onda revolucionária não conseguiu as liberdades esperadas. Problemas como a AIDS, a pobreza e o desencanto com as ideologias rederam os homens mais comedidos em relação a uma fácil libertação que proviria do uso da pura liberdade. Mesmo as democracias, tão sonhadas pelas sociedades modernas, dão sinais de cansaço e apresenta problemas: o desinteresse dos jovens pela vida cívica, os escân

Concílio Vaticano II : 50 anos

O Concílio Vaticano II está comemorando os 50 anos de sua abertura. Seus textos devem hoje ser relidos e meditados com seriedade. São ricos e conservam a atualidade. Como ensina Bento XVI, eles são a bússola a guiar a Igreja neste início do 3º milênio. Creio que os melhores frutos do concílio ainda estão por vir, mas para isso é preciso lê-lo e interpretá-lo seguindo as orientações fundamentais dos Papas, de João XXIII a Bento XVI. O Vaticano II não quis fundar uma nova Igreja, como muitos deram a entender nos anos de eferverscência pós-conciliar, mas apresentar a mesma fé de sempre de um modo renovado, isto é, em diálogo com o mundo moderno a quem se deve portar o Evangelho. A vida da Igreja é assim: sempre se renova dentro da relação fundamental com as origens.

Reencarnação ou ressurreição?

Muitos são levados a crer na reencarnação porque acham que ela pode explicar, com lógica férrea, o fato de uns viverem neste mundo em melhores condições do que outros. Assim, uns vêm de boas famílias, que lhes dão todas as condições para uma vida digna e feliz, enquanto outros ficam privados da educação mínima e da formação do caráter por não terem tido a sorte de nascerem no seio de uma família estruturada. Outros, muitos dos quais inocentes e gente que só faz o bem, são atormentados com terríveis sofrimentos corporais e psíquicos, morais e espirituais, sem que entendamos o porquê de uma situação aparentemente tão injusta. Os exemplos poderiam multiplicar-se, dando-nos a ver que a vida parece ser muito injusta com não poucos homens e mulheres. O relativo sucesso da doutrina reencarnacionista estaria em oferecer uma resposta a esse impasse, ensinando que as diversas sortes das pessoas neste mundo devem-se ao teor do comportamento moral que levaram em vidas passadas. Dizem q

Metafísica: Que é? Qual o seu objeto?

Padre Elílio de Faria Matos Júnior O termo metafísica ( tá metá tá fisiká ) designa o que está além ou o que vem depois da física, isto é, dos entes naturais, materiais ou sensíveis. O objeto da metafísica, segundo a filosofia clássica, é o ser como tal e em seu todo , o ser separado de determinações que o limitem. Com efeito, podemos estudar o ser sob determinações diversas: o ser enquanto sensível móvel (objeto da física), o ser enquanto sensível vivente (objeto da biologia), o ser enquanto quantitativo (objeto da matemática), etc. A única ciência, entretanto, que se propõe a estudar o ser como tal e em seu todo é a metafísica. Por isso, a metafísica procura oferecer uma cosmovisão ou uma visão omniabrangente do real. O domínio da metafísica está para além das coisas físicas ou sensíveis porque o ser como tal não é nem pode ser objeto de nossos sentidos. Pode ser reconhecido pelo intelecto, mas nunca tocado pelos sentidos. A metafísica vem depois da física porque s

Tocar o Absoluto

 O Pensador , de Rodin Padre Elílio de Faria Matos Júnior É possível ao homem tocar, ainda que de esguio, o Absoluto? Toda a tradição filosófico-teológica cristã o afirma. Aliás, no campo da filosofia, os gregos iniciaram essa empresa. De Deus, embora não possamos conhecer-lhe a essência ( quid est ), podemos, contudo, conhecer-lhe a existência e alguns atributos que lhe convêm em virtude de ser ele o Ser Absoluto e a Causa de todas as causas. Evidentemente, pela fé na revelação divina realizada por Jesus e transmitida pela Igreja, podemos ter um acesso especial aos “aposentos” da Divindade que jamais nos seria possível de outro modo.  É certo, entretanto, que, pela reflexão raciocinante, isto é, pela razão natural, podemos reconhecer que em nosso espírito existe a presença de uma poderosa luz, sinal do Absoluto em nós. Todas as vezes em que eu emito um juízo - ita est (é assim) -, na verdade, eu submeto o conteúdo da afirmação (qualquer que seja, não importa) ao absoluto

Santo Tomás de Aquino

Desde muito cedo, antes de entrar no seminário, aprendi a amar Santo Tomás de Aquino, seja por sua lucidez intelectual, que não deixa nada a desejar em relação aos corifeus da modernidade e pós-modernidade (e até os sobrepuja em muitos aspectos), seja por sua fé profunda no mistério de Cristo, Deus e homem, tal como o professa a Igreja Romana. Soube unir a exigência de uma razão que indaga e procura com a humildade que o fez acolher a Palavra de Deus transmitida pela voz da Esposa, a Igreja. Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!